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domingo, 17 de junho de 2012

Ode aos dois anos

Nao há idade mais marcante e bela na vida de uma pessoa - após o nascimento - do que os seus dois anos.

As pernas já dão passos largos, curtos, rápidos, marcados, compassados ou despretensiosos. Firmes e seguros como devem ser. O corpo todo - ainda pequeno - acompanha os ritmos que se quer alcançar. Aliás, a idade já permite as mais diversas vontades e caprichos, desde a roupa que vai vestir, até a música que vai cantar.

As palavras já são tantas e fartas que é possível criar e surpreender as pessoas com os mais diversos diálogos. Mesmo que alguns dos mais fortes argumentos sejam ininteligíveis até para seu melhor tradutor. E um "Eu te amo" nunca terá tanta fluidez, sinceridade, forma e cor quanto tem aos dois anos de vida.

Acertar não é uma obrigação, mas ainda não se transformou numa imensa barreira. É um jogo gostoso de ser jogado com o inigualável prazer que se tem de viver. É uma recompensa maior do que se possa ter em qualquer ganho. E se vier acompanhada de uma pequena, porém entusiasmada platéia, não haverá momento máximo em toda vida.

E os erros? Ah, como errar é um admirável ato de bravura! Talvez a maior ternura que se possa ter na coragem de se fazer entender, de se fazer explorar, de se fazer tentar. O erro é um mero processo para se atingir o momento sublime que vem com o reconhecimento do acerto, ou do quase acerto.

E existem, já, os caprichos, as frescuras, as chatices, mas também as opiniões: se grande, pequeno, agora, depois, mais, não, NÃO, azul, rosa, chocolate, eu quero, não quero, esse, aquele, meu. E meu! Assim, com exclamação e uma expressão corporal que não deixa dúvidas de quem é que (já) sabe. Simples assim, como quem não precisa de argumentos.

Seu corpo pequeno, o rosto redondo, suas mãos ágeis e gordas, olhos brilhantes e a inconfundível respiração intensa só dão mais cores a um cenário daqueles que não se pode deixar de olhar. É um corpinho de bebê numa alma de gente. Mas uma alma ainda não moldada pela vida, vivendo sua mais instintiva experiência.

É aos dois anos que se corta, verdadeiramente, o cordão umbilical. Independentes, já são capazes de tudo. Nós é que - pegos de surpresa - insistimos em manter os laços de dependência, quando na verdade, eles já não existem mais.

Os dois anos iluminam o ser, multiplicam a vida e ocupam o ambiente com uma alegria e uma marcante presença de quem já sabe viver.

Eu nunca vou me esquecer dois dois anos do meu eterno e poderoso homem-aranha e da minha linda e rosa bailarina. Sua luz vai brilhar para sempre na mais terna e bela e perfeita idade que jamais existirá novamente em suas - e nas nossas - vidas.